2 Enquadramento teórico
2.3 Ensino monolingue vs. ensino plurilingue
recebido muita atenção no meio da comunidade académica, por vários motivos – começando pelo facto de haver poucos investigadores que dominem estas mais de cinquenta línguas, e de os fenómenos migratórios só recentemente terem impacto na paisagem escolar e social finlandesa.
2.3 Ensino monolinguevs. ensino plurilingue
Neste subcapítulo contextualizamos o nosso estudo no campo da investigação sobre o ensinoaprendizagem de línguas. Esta tarefa é dificultada pelo facto de o objetivo deste ensino não ser a aprendizagem de línguas maternas propriamente ditas
apesar do nome da disciplina nem de línguas estrangeiras, cuja didática17 goza duma relativamente longa tradição académica (Tella & Harjanne, 2004), mas de línguas que, como vimos, no discurso norte-americano se começaram a denominar como LH.
Os nossos informantes, tanto pais como professores, mencionam repetidamente que deveria haver grupos diferentes, nomeadamente de LM e de LE, para alunos de E/P. Este é um claro sinal de que o conceito de LH é desconhecido pela população, em geral, na Finlândia. Por conseguinte, consideramos importante que as partes envolvidas no ensino sejam informadas sobre as especificidades da aquisição
aprendizagem/desenvolvimento das LH e como estas devem ser tomadas em conta no ensino.
Segundo Parra (2014: 214216), de facto, o que urge na área das LH, não é só acumular mais informação, mas integrar os conhecimentos alcançados para uma melhor coordenação dos esforços no campo da educação, planificação e investigação.
Concretamente, prioriza-se a consolidação do conceito dedidática específica das LH (signature pedagogy), isto é, as formas caraterísticas de ensinar e de aprender LH.
Essas formas partem duma reflexão sobre os objetivos e métodos do ensino, mas também sobre o papel dos professores de LH, ao serviço de determinadas populações e comunidades, e com vista ao desenvolvimento de toda a personalidade do aluno
17 Conscientes do facto de existirem várias definições e interpretações diferentes do termo
“didática”, principalmente entre mundo académico anglo-saxão, por um lado (onde são usados, em vez dedidactics, as expressõescurriculum and teaching methods oupedagogy), e românico, alemão e escandinavo, por outro, convém explicarmos a nossa noção sobre o conceito em questão (deixando de lado os termospedagogia eeducação, também definidas de diversas maneiras). Na Finlândia, o termo surgiu em 1974, ano em que a formação de professores foi transferida dos Seminários para as Faculdades de Educação das Universidades, onde se fundaram cadeiras em Didática para as diferentes disciplinas. No início, definia-se a didática como uma ”área de pedagogia cujo objetivo é fornecer instruções para as práticas da elaboração e da aplicação de planos curriculares”. Mais tarde, alargou-se o conceito, de modo que abrangesse a totalidade do processo ensinoestudoaprendizagem, constituindo o seu marco teórico. Assim, a didática é considerada como a base científica para o trabalho do professor, contendo uma dimensão normativa (instruções para o ensino, valores inerentes aos objetivos do plano curricular) e outra descritiva (estudo do ensino, também normativo no sentido de que atrás da teoria aplicada há sempre valores escondidos). (Tella & Harjanne, 2004.) Nós centrar-nos-emos na primeira dimensão do processo didático, isto é, no ensino, que por seu lado se constitui de múltiplos componentes, enfocando menos a dimensão do estudo e renunciando, por causa das limitações do nosso trabalho, à análise da aprendizagem. Assim, não chegaremos a verificar se os alunos de E/P, na realidade, aprendem aquilo que lhes é ensinado, a não ser pela avaliação indireta da parte deles próprios, dos pais e dos professores.
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(entire person) falante de LH. Na disciplina da didática de LH, têm-se destacado, além dos diferentes fatores que intervêm na definição da LH, os aspetos psico e sociolinguísticos, como as representações sociais (afetivas, pragmáticas e cognitivas) acerca das LH, e o estatuto e os papéis das LH (Flores & Melo-Pfeifer, 2014: 22).
Nos próximos parágrafos, veremos brevemente o que se entende hoje, num mundo caraterizado pelasuperdiversidade (Blommaert & Rampton, 2011; Blommaertet al., 2012; Creese & Blackledge, 2010a), por competência linguística, e qual deveria ser, segundo esta conceção, o objetivo do ensino de línguas em geral. Seguidamente, apresentaremos uma visão panorâmica da posição das LH em diferentes contextos do ensino básico. Em muitos países, o ensino tem sido monolingue na língua maioritária, apesar de múltiplos factos científicos comprovarem que o ensino na LM é vantajoso para os alunos de grupos minoritários (nacionais ou imigrantes). Sublinhamos que pessoalmente, defendemos as abordagens plurais no ensino das LM, com vista à construção dum repertório plurilingue18 e pluricultural.
O conceito de LH muitas vezes relaciona-se com o bilinguismo, como se se tratasse apenas da coexistência entre a língua de casa e a língua da escolarização e dos demais âmbitos. Grande parte das crianças e jovens, contudo, nasceram e continuam a viver em meios plurilingues, e estes meios estão a tornar-se cada vez maistransnacionais.
Os angolanos da Finlândia, por exemplo, mantêm contactos com os seus parentes em Angola, França ou Estados Unidos por vezes em francês ou inglês. Os falantes de certas línguas com grande variedade dialetal, como o árabe, o curdo ou o chinês, por outro lado, recorrem ao finlandês para se compreenderem mutuamente. No seu dia-a-dia, os jovens ouvem e usam várias línguas em diferentes contextos muitas vezes simultaneamente, sendo difícil determinar onde termina uma língua e começa outra (Lehtonen, 2015).
Assim, têm-se proposto novos termos para o conceito de plurilinguismo, visto como um fenómeno qualitativo, em vez de quantitativo:language crossing (Rampton, 1997), translanguaging19 (García & Beardsmore, 2008), metrolingualism (Otsuji &
Pennycook, 2010), languaging (Jørgensen et al., 2011). Os indivíduos, respetivamente, são encarados como languagers que usam todos os recursos linguagens, registos, “pedaços” de línguas, formas paralinguísticas que têm à sua disposição, para uma interação fluente.
18 O Conselho da Europa distingue o plurilinguismo domultilinguismo: o primeiro refere-se à capacidade de um indivíduo de usar mais de uma língua, do ponto de vista dos falantes e aprendentes, e o segundo, à presença de várias línguas dum determinado espaço geográfico, independentemente dos indivíduos que as falam (Conselho da Europa, 2001: 23; Cummins, 2014: 4).
19 Com o termotranslanguaging, García refere-se à livre movimentação entre as línguas, sem separação funcional diglóssica (García & Beardsmore, 2008: 45): “El translenguar es el conjunto de prácticas discursivas complejas de todos los bilingües y las estrategias pedagógicas que utilizan esas prácticas discursivas para liberar las maneras de hablar, ser y conocer de comunidades bilingües subalternas. El translenguar es diferente decode-switching ya que no se refiere a una alternancia o cambio de código, sino al uso de prácticas discursivas que no pueden fácilmente ser asignadas a una u otra lengua.” (García, 2012: 354). Inicialmente, o termo foi usado por Cen Williams para designar práticas pedagógicas que permitem mudar de línguas numa sala de aulas bilingue. Oinpute ooutput das atividades realiza-se em línguas diferentes, de forma sistemática, para que os alunos pratiquem tanto a receção como a produção nas duas línguas. Assim, por exemplo, a leitura faz-se numa língua e a escrita numa outra. (García, 2012: 45, 301.)
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A competência linguística20 muitas vezes relaciona-se apenas com algumas línguas ou com a aprendizagem formal, ficando invisível a competência adquirida de forma espontânea, informal e não formal. No mundo académico, é comum pensar-se que o domínio do inglês é o suficiente.21 No mundo laboral, porém, exige-se sempre uma boa competência em finlandês, mesmo que esta não faça nenhuma falta em várias profissões. A competência que os indivíduos (plurilingues) têm em outras línguas europeias, africanas ou asiáticas ignora-se por completo. A pluriculturalidade, por seu lado, encara-se como um problema, enquanto o qualificativointernacional significa um valor acrescentado vejam-se, por exemplo, as conotações ligadas a uma escola pluriculturalvs. uma escola internacional. (Lehtonen, 2016.)
Na investigação que se inscreve na mudança epistemológica do novo paradigma plurilingue (multilingual turn) (May, 2014; Ortega, 2009), assume-se que as línguas se analisem como partes integrantes dum repertório linguístico plural, heterogêneo e dinâmico. Postula-se que, na realidade, ninguém domina “toda” uma língua, mas apenas “specific bits and pieces” de línguas, e que os repertórios truncados constituídos por esses pedaços formam a nossa competência plurilingue, na era da globalização (Blommaert, 2010: 23). O repertório individual integra, portanto, LM, língua(s) maioritária(s) e, ainda, diferentes LE estudadas e/ou que se ouvem e leem nos diferentes contextos em que o indivíduo circula, marcados pela diversidade linguística (Coste et al., 2009), tendo, assim, uma relação direta com as biografias linguísticas e as práticas de literacia dos falantes.
Este tipo de plurilinguismo flexível, de facto, estabeleceu-se há já quinze anos como o objetivo para o ensino das línguas na Europa, no marco do Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (Conselho da Europa, 2001: 2324):
A abordagem plurilinguística [--] acentua o facto de que, à medida que a experiência pessoal de um indivíduo no seu contexto cultural se expande, da língua falada em casa para a da sociedade em geral e, depois, para as línguas de outros povos (aprendidas na escola, na universidade ou por experiência directa), essas línguas e culturas não ficam armazenadas em compartimentos mentais rigorosamente separados; pelo contrário, constrói-se uma competência comunicativa, para a qual contribuem todo o
20 Segundo a terminologia do QERC, (Conselho da Europa, 2001: 13, 31, 34), “ascompetências gerais dos utilizadores ou aprendentes de línguas incluem oconhecimento declarativo (saber), a competência de realização (saber-fazer), a competência existencial (saber-ser e saber-estar) e a competência de aprendizagem (saber-aprender). O conhecimento declarativo é um conhecimento que resulta da experiência (conhecimento empírico) e de uma aprendizagem mais formal (conhecimento académico). [--] A competência comunicativa compreende diferentes componentes: linguística, sociolinguística epragmática. Cada uma destas componentes é postulada de forma a compreender o conhecimento declarativo, as capacidades e a competência de realização. [--] Os níveis comuns de referência permitem acompanhar os progressos dos aprendentes à medida que estes constroem a sua proficiência, através dos parâmetros do esquema descritivo.” Por proficiência entendemos a capacidade no uso (http://cvc.cervantes.es).
21 A defesa desta tese, por exemplo, foi-nos sugerido que fosse em inglês, porque não se encontrava em todo o Departamento de Línguas Modernas um indivíduo qualificado que dominasse o português e se disponibilizasse para ser o representante oficial da Faculdade. Nós argumentámos que o português é uma grande língua universal e que gostaríamos de respeitar o eventual público lusófono, interessado no tema (presumindo que os falantes de espanhol compreendem o português). Felizmente, o professor catedrático de filosofia medieval, o português José Filipe Silva, teve a bondade de representar a Faculdade no ato.
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conhecimento e toda a experiência das línguas e na qual as línguas se inter-relacionam e interagem.
Deste ponto de vista, a finalidade do estudo das línguas modificou-se profundamente. Não se trata já de alcançar “mestria” em uma, duas ou mesmo em três línguas, cada uma colocada no seu lugar, tendo como modelo final o “falante nativo ideal”. Em vez disso, a finalidade passa a ser o desenvolvimento de umrepertório linguístico no qual têm lugar todas as capacidades linguísticas, de forma a construir a
“multicompetência” dos falantes.
Originalmente, o conceito de Hymes (1966, apud Kalliokoski, 2011) sobre a competência comunicativa, a capacidade humana de usar a linguagem num contexto social, incluía o plurilinguismo. A ideia de um repertório linguístico que consiste na competência em diferentes recursos linguísticos, porém, não foi aplicada ao ensino nem à avaliação de LE ou de LH. Inclusivamente no marco do próprio QERC, o enfoque tem residido nas diferentes áreas de competência numa língua particular, e não se tem prestado atenção às práticas plurilingues.As atitudes perante a mistura de línguas e registos continuam negativas, inclusivamente entre os professores e especialistas em línguas.(Kalliokoski, 2011.)
A noção de competência parcial também não é comummente aceite, mesmo que ninguém precise de todos os recursos que as línguas eventualmente nos potenciam (Blommaert, 2010: 103). Por um lado, e em muitos casos, os professores escondem as suas práticas naturais detranslanguaging, consideradas mal vistas, apesar de saberem que estas são precisas para que se possa ensinar de modo eficiente (García, 2012: 307).
Por outro lado, o reconhecimento e a aceitação dos repertórios plurilingues individuais também não quer dizer que os professores devam incentivar apenastranslanguaging e práticas linguísticas flexíveis nas aulas. Também devem assegurar que os alunos se consciencializem sobre as diferenças entre as variedades mistas que usam e as variedades normativas22 que vão precisar de dominar para terem sucesso na vida académica e profissional (May, 2014: 115). Além disso, é preciso reconhecer que algumas formas de plurilinguismo são “perigosas” por serem consideradas desordenadas, impuras e anormais, caindo os seus usuários em risco de serem desqualificados, marginalizados e excluídos (Blommaert et al., 2012; Blackledge &
Pavlenko, 2004; Norton, 2000).
Quanto às bases científicas do bi/plurilinguismo escolar, as investigações publicadas ao longo dos últimos quarenta anos, em diferentes partes do mundo, demonstram claramente a importância da LM/LH para o desenvolvimento pessoal e educacional da criança. Tem sido provado que programas bilingues bem implementados promovem a literacia e os conhecimentos das diferentes disciplinas sem nenhuns efeitos negativos no desenvolvimento da língua maioritária (Skutnabb-Kangas, 2000; Cummins, 2001; Baker, 2007).
Também existe evidência empírica que comprova que a aprendizagem ocorre por meio da integração de novos conhecimentos nas estruturas cognitivas previamente
22 Usamos o termonormativo(standard) como “a prestige variety of language, providing a written institutionalized norm as a reference form for such purposes as teaching and the media” (Coulmas, 2005: 215apudGarcía, 2012: 35).
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existentes, e isto aplica-se à transferência de conceitos, conhecimentos e competências entre as línguas, nos dois sentidos. Segundo o princípio da interdependência linguística, baseada na teoria da proficiência subjacente comum que Cummins apresentou já na década de 70 (ver p.ex. Cummins, 2005b), esta interdependência promove o desenvolvimento da proficiência nas duas línguas, sempre que existam as condições necessárias. Segundo Cummins (Idem: 2), à medida que a instrução numa determinada Lx é eficiente para promover a proficiência em Lx, a transferência dessa proficiência para Ly ocorrerá desde que haja exposição adequada à Ly (na escola ou em outro âmbito) e motivação para aprender Ly. No ensino, por conseguinte, dever-se-iam aplicar estratégias bilingues que promovam esta transferência (Idem: 2):
[T]his monolingual instructional orientation is counterproductive and inconsistent with the reality of interdependence across languages. If crosslingual transfer is occurring anyway and, in fact, is a necessary condition for successful bilingual development, surely we should attempt to encourage and facilitate this transfer rather than impede it?
[--] while monolingual instructional strategies (e.g., use of the target language for large blocks of time) play an important role within both foreign/second language teaching and bilingual/immersion education, they should be complemented by bilingual instructional strategies that focus on teaching directly for two-way transfer across languages.
No contexto finlandês este tipo de estratégias bilingues, até recentemente, foram praticamente inexistentes, mas em outros países, têm-se aplicado projetos (locais) de promoção e valorização das LH na escola maioritária, com vistas ao aproveitamento das LH como um recurso cognitivo e académico, à ligação do ensino com a vida e com obackground dos alunos, e ao reforço da identidade pluricultural. Existem muitas atividades que poderiam adaptar-se às nossas aulas, como a “montra bilingue” (dual language showcase), onde os alunos escrevem e publicam na rede histórias nas duas línguas, com a ajuda dos pais, professores e colegas23 (Parra, 2014). Nos exercícios de leitura bilingue (dual language reading), por sua vez, leem-se em voz alta livros onde o texto aprece nas duas línguas, lado a lado (Cummins, 2014: 911, 14), para darmos só dois exemplos concretos, adequados às aulas de línguas.24
Este tipo deuso simultâneo das línguas, no qual nenhuma língua substitui a outra, mas, antes, são usadas lado a lado, é recomendado pelo Centro Europeu de Línguas Modernas, emA Framework of Reference for Pluralistic Approaches to Languages and Cultures (FREPA), que oferece modelos para a promoção da pluralidade e da competência plurilinguística e pluricultural no ensino (Candelier, 2010). O termo abordagens plurais a línguas e culturas refere-se às práticas didáticas que aproveitam mais do que uma língua e/ou variedade de línguas ou culturas nas atividades realizadas nas aulas. As práticas contrárias, chamadassingulares, eram valorizadas no ensino de línguas em que se usavam métodos estruturalistas, e continuam a sê-lo nos métodos
23 Segundo The New London Group, uma pedagogia eficiente de literacia deve alargar as definições tradicionais de literacia além da leitura e escrita linear de textos, baseando-se nas competências plurilingues dos alunos e na multiliteracia as competências de compreender e produzir textos multimodais; escritos, orais, visuais, auditivos, táteis, gestuais e espaciais (Cummins, 2014: 11).
24 Na escola pluricultural helsinquiense de Meri-Rastila, os alunos escreveram um livro de contos publicado em 14 línguas diferentes, na páginaYllättävä tapaus. Lasten eläintarinoita monella kielellä, consultada a 19.4.2016 (http://www.hel.fi/static/opev/merir/Yllattava.pdf).
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comunicativos e nas aulas das LM que priorizam o uso exclusivo da língua alvo.
(Candelier, 2010; Kantelinenet al., 2016.)
A FREPA (Candelier, 2010) apresenta quatro abordagens plurais para o ensino de línguas. Aabordagem intercultural inclui atividades didáticas nas quais se destacam a língua e cultura de outras comunidades, principalmente as minoritárias, presentes na escola, com o fim de contribuir para a competência intercultural, definida como conhecimentos, competências, atitudes e comportamentos que permitam ao aluno reconhecer, compreender, interpretar e aceitar modos de viver e de pensar diferentes.
As outras três abordagens têm uma orientação mais linguística. O objetivo da didática integrada das línguas é facilitar a aprendizagem de uma segunda língua ensinada na escola, usando a primeira como trampolim, e estas por sua vez como trampolins para uma terceira, e assim sucessivamente.
Aintercompreensão entre línguas consiste na abordagem em paralelo de várias línguas da mesma família, tendo o aluno já aprendido alguma delas como LM, língua do ensino ou LE. O foco de atenção reside nas competências recetivas, na compreensão. (Aqui cabe mencionar que as línguas mais parecidas com o finlandês são as fino-bálticas, não estudadas na escola – estónio, careliano, ingriano, ludiano, vepesiano, vótico, livónio25 – e que as línguas mais estudadas – o sueco e o inglês – não se parecem muito entre si, apesar de as duas serem germânicas).
A sensibilização à diversidade linguística (awakening to languages) é a abordagem mais extrema, pois refere-se a atividades educativas nas quais se tomam em consideração não só as línguas ensinadas na escola, mas todas as línguas e variedades do mundo, sem descartar nenhumas.
Estas quatro abordagens plurais diferenciam-se das abordagens singulares pelo modo reflexivo com que as línguas e as culturas são trabalhadas, pelo papel que a L1 (ou L2 etc.) desempenha neste processo e por despertar a consciência dos aprendentes sobre os seus próprios modelos de aprendizagem, além de fomentar uma postura de interesse e respeito, em vez de ignorância e preconceito, em relação à alteridade (otherness). (Candelier, 2010.)
Relativamente a outras teorias atuais sobre a aprendizagem de línguas, na Europa, sustenta-se que têm um caráter holístico e se baseiam numa nova perspetiva segundo a qual o próprio processo de aprendizagem é mais central do que os seus resultados (Kantelinen et al., 2016). O aprendiz não se considera como alvo do ensino senão como um agente ativo guiado pelas suas próprias motivações, metas e necessidades.
O objetivo do ensino é produzir uma competência funcional, uma capacidade de atuar em contextos autênticos linguísticos e culturais. Além disso, os professores devem ter na mira não só a língua que ensinam mas também todas as línguas dos seus alunos, contribuindo para o desenvolvimento duma comunidade escolar linguisticamente consciente, em colaboração com os professores das outras disciplinas, para apoiarem toda a aprendizagem dentro e fora da escola (Idem).
Da perspetiva norte-americana, segundo Parra (2014: 219220), tem havido dois avanços principais no ensino das LE e LH: a adoção dos National Standards (cf.
QERC na Europa), cuja conceção de comunicação se alarga mais além da gramática
25 Línguas com um número muito reduzido de falantes, com a exceção do estónio. A língua livónia não tem nenhum falante “nativo” vivo.
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e das quatro competências tradicionais, e a abordagem funcional da língua, onde as modalidades orais e escritas são entendidas como práticas sociais em contextos sociais específicos (cf. competência funcional no QERC: 178184). O abandono dum ensino prescritivo, que encarava como errôneas as formas não normativas como, eventualmente, aquelas que os alunos aprendem em casa , permite o ensino de diferentes funções comunicativas e sociais das línguas em diferentes contextos, sem excluir, naturalmente, os contextos académicos.
Apesar de a Islândia e as Coreias serem possivelmente os únicos países monolingues dos cerca de 200 países do mundo, apenas 25% dos Estados reconhecem duas ou mais línguas oficiais. Muito poucos Estados oferecem ensino básico público em outras línguas que não as oficiais e, por consequência, a maior parte das crianças
Apesar de a Islândia e as Coreias serem possivelmente os únicos países monolingues dos cerca de 200 países do mundo, apenas 25% dos Estados reconhecem duas ou mais línguas oficiais. Muito poucos Estados oferecem ensino básico público em outras línguas que não as oficiais e, por consequência, a maior parte das crianças